Carta de repúdio as violências lesbofóbicas e misóginas cometidas por Luiza Coppieters e repúdio à sua participação na programação do Mês da Visibilidade Lésbica de São Paulo

agosto de 2016

Viemos através desta carta aberta manifestar repúdio em relação à participação de Luiza Coppieters na programação do mês da visibilidade lésbica em São Paulo.

Há duas denúncias contra Luiza, referentes à lesbofobia e misoginia. Ambas violências foram realizadas através de agressão escrita em comentários na rede social Facebook.

*para melhor visualização dos prints:

https://medium.com/@GNMX33/c%C3%B3pia-da-carta-de-rep%C3%BAdio-a-participa%C3%A7%C3%A3o-de-luiza-coppieters-na-programa%C3%A7%C3%A3o-do-m%C3%AAs-da-visibilidade-b965db63e2d2#.9qlio0bc2

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Consideramos inadmissível que qualquer pessoa violente lésbicas em qualquer nível. Consideramos mais grave ainda que uma pessoa que cometa tais violências participe como convidada na programação do Mês da Visibilidade Lésbica.

As violências cometidas por Luiza tem caráter de humilhação em relação às vítimas. A primeira vítima é uma lésbica butch/caminhão, vítima de estupro pedófilo aos 13 anos. As agressões verbais — de teor negativo e humilhante — cometidas contra ela exemplificam a realidade cotidiana de violência a que estão expostas as lésbicas butches/caminhões. Luiza fala que a vítima “gostaria de ser um homem” e teria “inveja de seu pinto” (em referência à própria genitália). Luiza também levanta a possibilidade de o filho da vítima (um homem) ser um estuprador. Todas essas colocações são de caráter extremamente agressivo e vexatório dado o contexto e história da vítima. Luiza ainda expõe mensagens privadas trocadas com a vítima no momento em que esta estava em situação vulnerável tendo uma crise de ansiedade, expondo ainda mais a fragilidade da vítima ao público.

A denúncia aponta que Luiza escreveu um comentário de caráter machista na publicação de uma mulher religiosa. A vítima publicou video na internet onde demonstrava estar em situação vulnerável, ao que Luiza responde no post da vítima que gostava de sua “carinha de brava”, realizando observações sobre possibilidades de encontros sexuais entre Luiza e a vítima. Sabemos que quando mulheres demonstram agressividade é muito comum ouvir homens que erotizam essa agressividade. Ao não aceitar a agressividade por parte de mulheres, classificam esse estado com adjetivos relacionados à estética, beleza e ao próprio prazer ao observar aquele estado. Comentários como esse são inadmissíveis e remetem à cultura do estupro!
As duas denúncias demonstram o caráter vexatório e ameaçadores dos comentários de Luiza. Ambos comentários foram públicos, o que implica ainda em exposição da situação de violência por parte de quem está oprimindo,o que configura duas situações de violência.

Por todas essas razões vemos como uma impossibilidade a participação de Luiza Coppieters nos eventos da programação do Mês da Visibilidade Lésbica na cidade de São Paulo. O Mês da Visibilidade Lésbica deve ser, sempre, um espaço de segurança para lésbicas e não o oposto. Nos perguntamos: Como uma agressora está sendo convidada para oferecer uma oficina para outras lésbicas a partir desse contexto de violência que promove?

Gostaríamos de ressaltar que em outro momento importante para o encontros das lésbicas em São Paulo no ano de 2016 também ocorreram desrespeitos às lésbicas: durante a organização da Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de São paulo do ano de 2016 uma grande quantidade de lésbicas expressaram seu desconforto em relação a participação de homens — que são oriundos da violência masculina nesta sociedade patriarcal — no ato da caminhada e o Organizativo da caminhada de Lésbicas e Bissexuais de São Paulo apenas disse que a rua é pública e que portanto não poderia impedir a participação de homens no ato. A problemática foi que os argumentos de lésbicas que não queriam a presença de homens em seu espaço de luta não foi levado em consideração: não houve respeito ao fato de que muitas lésbicas já sofreram estupros de homens, por exemplo, e gostariam de estar seguras em seus espaços de luta. Além de que não faria nenhum sentido marchar ao lado de homens em uma caminhada lésbica e bissexual, já que os homens não fazem parte desse contexto afetivo, simbólico, de resistência e luta. Ou seja, faltou posicionamento público do organizativo da caminhada em relação às suas intenções de ocupação do espaço público. Importante ressaltar que no dia a dia patriarcal, tanto atualmente como historicamente a rua não é pública para mulheres e lésbicas, ela pertence socialmente aos homens. Portanto devemos sim afirmar a não-presença de homens nessa caminhada. Ocupar a rua apenas com as mulheres é um ato de luta e resistência e deve ser colocado de forma incisiva.
É extremamente necessário definir que lésbica é a pessoa do sexo feminino que se relaciona afetiva e sexualmente com pessoas do sexo feminino.

“A lesbianidade é uma sexualidade, nada tem a ver com identidade de gênero. Lesbianidade é a sexualidade homossexual de pessoas designadas mulheres ao nascimento. Independe de identidade de gênero. A relação entre um homem trans e uma mulher material é lésbica, portanto. Não existe risco de gravidez em relações homossexuais. Uma lésbica nunca poderá engravidar outra lésbica. A relação entre uma pessoa que se autoproclama trans e uma mulher material é um relacionamento hétero. Estamos falando de sexualidade e por se tratar de uma sexualidade que não permite acesso sexual masculino representa ameaça a dominação patriarcal”.

Cremos que é liberal a participação de pessoas do sexo masculino dentro de espaços lésbicos! Por mais que as pessoas do sexo masculino se identifiquem com o gênero feminino construído socialmente, sua socialização se dá como pessoa do sexo masculino, ou seja, privilegiada dentro da estrutura patriarcal a partir de um contexto que estimula que violências sejam cometidas contra pessoas do sexo feminino. Esse contexto resulta em atos de violência de pessoas do sexo masculino contra pessoas do sexo feminino e é exatamente por essa razão que lésbicas não desejam partilhar de seus espaços de segurança com pessoas do sexo masculino. Existem outros casos semelhantes em que houveram lésbicas incomodadas com a presença de pessoas do sexo masculino que se autoproclamam trans em espaços que deveriam ser exclusivamente femininos, principalmente por haver a presença de muitas lésbicas. O EME (Encontro de Mulheres Estudantes) que ocorreu em Curitiba no mês de maio de 2015 é um exemplo disso. Durante o encontro várias mulheres relataram desconforto em usar o mesmo banheiro e dormir no mesmo alojamento que uma pessoa que se auto-denominava uma “transsexual lésbica”. No encontro também houve um sarau onde esta pessoa do sexo masculino estava presente. Ela usou de deboche e ironia com as lésbicas. Muitas mulheres neste momento começaram a externalizar seu desconforto em estar presente no mesmo espaço que essa pessoa, que decidiu continuar provocando e ironizando as lésbicas. Estas mulheres foram silenciadas, tiveram seus traumas e contestações abafados com acusações de transfobia e intolerância.

Espaços exclusivos de mulheres devem priorizar a segurança física, emocional e psicológica das MULHERES. E que é incabível que se priorizem, mais uma vez, pessoas do sexo masculino como toda a sociedade já o faz. Ignorar que um falo no meio de espaços femininos pode acionar diversas problemáticas em mulheres é uma postura anti-feminista, descuidada e despolitizada. Ressaltamos aqui que gênero é uma construção social a partir da interpretação que se dá ao sexo biológico. A genitália é um dentre os vários elementos que compõem o sexo biológico de uma pessoa e não é contra genitálias que estamos no posicionando! Mas sim em relação à construção social masculina que se dá a partir do sexo masculino e que gera contextos de violências, ou seja, as duas coisas se desenvolvem juntas na sociedade patriarcal e é por essa razão que pessoas do sexo masculino violentam das mais variadas formas pessoas do sexo feminino. Não queremos violências patriarcais nos espaços lésbicos.

Mais informações e referência da citação sobre o relato ocorrido no EME: https://milfwtf.wordpress.com/2015/05/04/o-feminismo-queerizado-odeia-lesbicas/
Queremos saber que organizativos são esses que permitem violências tão graves contra lésbicas, em eventos que deveriam ser de segurança e união de todas as lésbicas.
Não mais permitiremos que essas violências aconteçam.
Não permitiremos.

Sapatão não é diversidade sapatão é resistência antipatriarkal!

“O entrismo* dos transformistas também ocasionou na destruição do primeiro (e historicamente significante) centro lésbico no Canadá. A Conexão Lésbica de Vancouver (VLC, Vancouver Lesbian Connecton) era administrada desde sua criação em 1985 por um coletivo e oferecia serviços como uma livraria de pesquisas femininas, um lugar para se passar o tempo, instalações de lazer e espaço para eventos. A VLC tinha um perfil norteador da história de Lésbicas e Gays no Canadá, e se tornou o “modelo para centros comunitários lésbicos em outras cidades” (DiMera, 2011). Ela foi destruída como resultado do entrismo de um corpo masculino e fisicamente transformista, Mamela, que havia sido um voluntário no Centro de Lésbicas e Gays desde 1995, e descobriu por lá sobre a existência da VLC. Mamela estava frequentando a clínica de gênero da Universidade da Columbia Britânica e se descrevia como um feminista radical lésbico com consciência de gênero feminina. Inicialmente ele teve sua inclusão na VLC negada, por ter sido criado como um homem, mas ele insistiu, e depois de muita discussão a VLC concordou em incluir homens transformistas, contanto que se identificassem como lésbicas, e o resultado disso é que Mamela foi aceito em 1996. Essa mudança na política do local logo foi motivo de arrependimento. De acordo com as participantes do coletivo, o comportamento de Mamela era muito perturbador, incluindo o assédio de voluntárias e funcionárias, usando os recursos locais sem permissão, atendendo ao teleatendimento de emergência sem ter feito o treinamento e assediando sexualmente voluntárias e funcionárias.
A VLC eventualmente revogou a adesão de Mamela por razões de comportamento ofensivo e sexualmente agressivo, e Mamela entrou com uma queixa contra a VLC no Tribunal de Direitos Humanos da Columbia Britânica em 1999. Por decisão do Tribunal, a queixa de Mamela foi aceita e a VLC foi obrigada a pagar $3,000 de compensação por danos a “dignidade, sentimentos e auto-respeito”. A decisão saiu depois que a VLC já havia sido dissolvida, pois não consguiu arrecadar dinheiro para os custos legais do processo, não possuindo nem o tempo nem a energia necessária para lutar pelo direito de “espaços exclusivos para mulheres” (Wales, 1999). O efeito da intimidação transformista foi destruir um espaço importante para lésbicas.”
— Sheilla Jeffreys. Gender Hurts, página 169.

*Entrismo é uma tática que consiste em membros de uma organização de políticas Y adentrando em um espaço de políticas X — geralmente maior — para tentar angariar seguidores, dissolver o espaço X etc.

Lésbikas de São Paulo assinam essa carta

agosto/2016

******No momento de publicação dessa carta foi divulgada a informação de que Luiza Coppieters não mais participará da programação do Mês da Visibilidade Lésbica de São Paulo 2016. A decisão foi tomada em reunião aberta do organizativo da Visibilidade Lésbica de São Paulo*******